História da mamãe Felicia Pilli



”Até metade de 2009 só queria me formar, seguir carreira, viajar, produzir muita arte, fazer mestrado e morar fora de São Paulo. Mas com alguns desses objetivos cumpridos veio uma gravidez não planejada, um relacionamento não estável e a incerteza de uma nova vida.
No dia 02 de agosto de 2009 foi plantada a mais linda semente em mim, a vida que sempre desejei desde os tempos de menina. Não precisei de exames, a certeza já estava enraizada em mim.
Inicialmente difícil e um tanto inaceitável para meu pai e o pai da minha filha. A sensação de abandono foi levada minha gestação inteira. Senti-me muito só, mas muito forte certa do meu desejo, confiante no amor que eu poderia dar ao pequeno ser que se fortificava em mim.
Minha gestação foi ótima, normal, só o peso que foi anormal… Engordei bastante, comi e tomei muito sorvete. Fizemos yoga, exercícios de pilates, de hidroginástica, fomos pra balada, pro forró, celebramos a nova vida e fomos felizes.
Planejei um parto que não tinha nem idéia de como seria, mas queria ele estivesse num processo “natural” que minha obstetra me auxiliasse, logo vi que seria mais complicado do que o sonho.
Nesse período minha comunicação com o pai da Maria era péssima, não namorávamos quando engravidei, tínhamos um amor livre que nos permitia algo que hoje não acredito mais, mas uma liberdade banalizada e um desrespeito mascarado.
Completando 7 meses fui fazer o pré-natal, meus exames estavam ok e minha médica deu a guia para possível último ultra-som do trimestre. Era dia 2 de março, terça feira eu estava enorme.
Foi combinado com minha médica que iríamos firmar no sucesso do meu parto, que ela não me aplicaria ocitocina, anestesia e a epísio em último dos últimos casos. Porém, como tudo em minha vida, as coisas nunca saem como planejado. Eu e meus pais tínhamos acabado de nos mudar (nosso “apertamento” tava pequeno demais para 3 adultos 1 bebê e 2 cachorros). As 9h terminei meu café e ao levantar da mesa senti um geladinho entre pernas. Desesperei, estava de 31 semanas e muita água saindo de mim. Liguei pra médica, que, na hora, me mandou pro hospital para ver se era líquido do bebê.
Saí de casa do jeito que estava: havaianas, uma regata podre e uma saia… total mulambenta! 1 hora de trânsito na Paulista e chegamos ao hospital, quando saí do carro uma cachoeira. Chorei mais que todas as vezes na minha vida juntas. Sabia que minha valente guerreira da LUZ estava a vir.
Passei pelo obstetra que confirmou a bolsa rota fez todos os procedimentos pra ver se o bebê tava bem, tudo ok! Na sala de parto minha mãe me acompanhou por todo tempo, me fez massagens, carinhos, cantou, foi minha “doula materna”, que tanto amo e tenho orgulho.
Entre 12hs -13h o trabalho de parto não evoluía, eu tinha pouquíssimas contrações, minha médica por telefone solicitou que vissem como estava os batimentos do bebê e me medicassem com ocitocina. Às 18hs ligaram para minha médica e disseram que o trabalho não evoluía para um parto normal. Às 19hs ela chegou, fez o toque e perguntou a dosagem de hormônio, viu os batimentos. NADA de dilatação…
Não hesitei, chorei quando a possibilidade da cesárea surgiu, e assim fomos…. de parturiente me tornei paciente. Consciente do meu papel até ali.
Às 20h20 minha menina valente nasceu deu seu primeiro grito de liberdade ao mundo! Nasceu resmungando, seu chorinho me dizia que estava cansada de nadar sozinha, que queria viver no externo.
Toda roxinha, cansada das 10hs de trabalho de parto, pequenina 1.915kg e 43cm, mas sempre esperta, apgar 9-10, segundo pediatra melhor que muito bebê que nasce a termo, foi tão rápido, nos cheiramos, um reconhecimento breve e logo a levaram, precisava de cuidados mais especiais.
Era a doce Valentina que nascia… que floriu previamente, mas enchendo nossos corações, minha doce mãe se tornava vó, tão firme acompanhou tudo, ao meu lado, segurando minha mão e pegando nos braços sua netinha.


Durante 20 dias “morei” naquele hospital, na UTI neonatal, em 20 dias que conheci bebês miudinhos, bebês cheios de carinhos por mães guerreiras, mulheres que são exemplos de força, de coragem, de amor, de perseverança.
Mais difícil que o processo do parto era voltar pra casa todos os dias sem ela nos braços, voltar no dia seguinte para o hospital com mamadeiras de leite, ordenhado em casa para que quando fosse possivel irem introduzindo na alimentação, era pedir pra Deus me dar a dádiva de nutri-la e assim não precisar de leite artificial (que ela tomou muitas vezes). Mas a esperança sempre nos acompanhava, guerreiras trocávamos nossas felicidades e medos e compartilhávamos da felicidade em ver os pequenos que iam deixando a UTI.
Porque ela nasceu prematura? Não tem explicação cientifica. Nasceu!
Sou o que sou hoje pelo que vivi, pelas dificuldades, pelas alegrias, pelo aprendizado, essa força passo para minha miudinha, que foi brava ao superar seu coraçãozinho, e viveu, que chegou a pesar 1.740kg, mas cresceu!


Maria Valentina aos 7 meses
Ela com certeza é o ser mais amado da família, dos avós corujas, dos primos distantes, da bisa, da tia, da grande família que se fortaleceu no amor que ela plantou.
Eu a alimento com a única coisa que produzo e ela me alimenta com o mais incrível dos sentimentos, ultrapassando os significados da
palavra amor.
Me tornei mulher, mãe e guerreira, agradeço a todos que conosco compartilha desses meses de pura paixão, de magnifica devoção, vibrando como cada fase do crescimento natural da Maria. Que se desenvolve normalmente como qualquer criança, onde o fato de ser prematura não modifica em nada sua capacidade de viver e crescer como um bebê de “40 SEMANAS”.


Maria e mamãe Felícia
Agradeço ao poder do meu corpo em alimentá-la, diante das dificuldades no processo do aleitamento, do bico rachado ao sangue, da dor ao choro, mas do desejo maior em servir a minha pequena a hora que a fominha bater.”

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